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sexta-feira, 19 de julho de 2024

Sobre os últimos meses...


 

Vestia um conjunto branco de trazer por casa. 
Que se perdia no tom da pele bronzeada. 
Fazia contraste com o rosa das unhas. 
Que fazia contraste com as coisas que sentia. 
Perdia-se, durante horas, numa varanda onde mirava o vazio. 
Mas encontrava paz ali. 
Entre o silêncio e a cerveja. 
Entre amendoim e a brisa que não corria.
Estava cansada dos mesmos lugares e de fazer as mesmas coisas de sempre. Havia em si, uma necessidade urgente, de respirar. 
De vida. 
Sentia que a vida corria ligeira, mas sem emoção. 
Vestia-se de cores, para camuflar o cinza que lhe trespassava o peito. 
Bebia uns tragos, para se esquecer da vida que a escolheu. 
Nalguns dias, esquecia-se demasiado. 
Noutros, voltava tudo à flor da pele. 
Tinha uma ânsia desenfreada de querer fazer dar certo, mas tinha o pé a fundo no travão. 
Já não era medo. 
Era cuidado consigo.
Contava as horas e os dias que passavam através de uma janela. 
Como se fosse um portal que a transportaria para um qualquer outro lugar. Gostava de ouvir o cheiro a vida das outras vidas. 
Gostava de ouvir a música da vizinhança e os gritos das crianças nos passeios. Gostava de saber as cores das roupas estendidas nas cordas nos apartamentos de frente. 
Gostava de ouvir o aspirador soar no carro do vizinho chato. 
Gostava do sol a bater-lhe na cara. 
Numa mistura de "gosto de estar aqui, mas queria estar noutro sítio". 
Gostava destas coisas pequeninas. 
Que lhe pareciam gigantes, vistas da sua janela. 
Gostava desta liberdade de poder escolher os seus momentos, ao mesmo tempo que se angustiava na falta de um "como foi o teu dia?


quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sei que preciso deixar-te ir...



Sei que, às vezes, o que pensamos ser para nós, nem sempre o é.
Não sei o que fazer com os abraços que ficaram por te dar e com os beijos que nunca te darei.
 Não sei como me conformar com a tua ausência, mas sei que preciso dela para seguir em frente.
Continuo a olhar para o telefone à espera daquela chamada que não vai chegar, continuo à espera de te olhar no fundo desses olhos e ver neles o que agora ainda não consigo.
Sei que preciso deixar-te ir.
Por ti e por mim.
Sei que não faremos nada juntos e as palavras que dissemos, assim como os sonhos que sonhamos, se esfumaram no ar.
Mas tenho saudades...
 Tantas saudades...
Desse conforto bonito de saber que ao final do dia estás aí.
Saudades de ouvir a tua voz e de nela encontrar o alento que, por vezes, me foi faltando.
Tenho saudades do que projectei contigo e não farei.
Saudades dos encontros que não tivemos e das coisas que não chegaram a acontecer.
E assalta-me o pensamento a ideia de que talvez tenhamos desistido demasiado depressa...
De que, talvez, estejamos apenas em negação por ser bom demais...
Porque o medo nos consome e nos tira a vontade de experienciar o que poderia ser tão bonito
Não sei o que fazer ao sentimento e onde guarda-lo para que me doa menos.


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Para a próxima pessoa que eu me apaixonar:


 

Não me digas onde moras ou o que fazes para viver. 
Não me fales do teu signo ou qual é o futebol que gostas de ver. 
Liga-me às três da tarde, no meio de um dia corrido, para dizer que não aguentas as saudades, em vez das duas da manhã quando não tens nada para fazer. 
Diz-me que estás à porta do meu trabalho para me levar a beber um copo. 
Diz-me o que gostas de comer e eu faço-te o jantar. 
Não me dês frases feitas de quem pouco faz. 
Diz-me que fui a escolhida e não a opção. 
Se um dia eu te falar das minhas dores, tem paciência e não digas que faço tempestades em copos de água. 
Traz-me conforto na segurança do silêncio, porque as palavras são gastas, e abraça-me como se me fosses perder. 
Não me leves a jantar, nem me compres flores ou chocolates, prepara a manta e leva-me a contar as estrelas. 
Diz-me o que vês em cada uma delas e eu prometo guardar tudo com cuidado dentro de mim. 
Leva-me a ver as luzes da cidade enquanto os nossos olhares se cruzam em silêncio e sentimos o quão bom é estar ali. 
Diz-me que estou bonita e não quererias mais ninguém. 
Mais do que isso, faz-me sentir única. 
Não esperes que seja sempre eu a procurar-te e faz sempre o que tiveres vontade. 
Não te deites zangado comigo e diz-me que sou a tua paz. 
Abre uma garrafa de vinho e espera por mim ao final do dia, porque é para ti que vou querer voltar. 
Conta-me como é parvo o colega que trabalha contigo e eu paro o livro que estou a ler para te ouvir. 
Diz-me que te irrita a música que eu ouço enquanto me puxas para dançar no tapete da sala. 
Não me mantenhas por ego ou por vaidade. 
Não faças de mim prateleira de opções. 
Senta comigo e damos um jeito. 
Seja para ir ou ficar. 
Mas se um dia pensares em mentir -me... vai-te embora. 
Não voltes. 
Para que eu faça o luto de uma morte não anunciada.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Quases...


 

És um quase que quase aconteceu
E, apercebi-me hoje que a palavra mais sofrida do dicionário é esta…
Quase!
Quase fomos.
Quase fizemos.
Ah! Quase que foi!
Apaixono-me sempre por histórias com princípio e fim e nunca sei onde encaixar o meio.
Nas coisas que ficaram por fazer, nas coisas que quase dissemos, nos durante que quase o foram, para o final serem apenas um fim.
E, são estes quases, que ficam por um triz de acontecer que, quase doem mais do que aquilo que realmente acontece.
Porque projectamos a ilusão do que seria, no meio dos desejos que não nos permitimos viver…
Concordam?


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

O meu sentir...


 Os dias parecem todos iguais. 
Não estás bem em lado nenhum, com ninguém. 
Apetece fazer mil coisas ao mesmo tempo que decides não fazer nada. 
Sentes -te invisível. 
Com uma dor que ninguém vê, mas que te trespassa o peito. 
Olhas à volta e questionas-te sobre tudo e todos. 
Estar sozinha é a tua maior paz. 
Ao mesmo tempo que sentes falta de alguém. 
Tempos estranhos estes. 
De lutar contra o que sentes em prol do que achas que precisas. 
Os dias são de sol e, ainda assim, não deixam de ser cinzentos... 
Nas coisas que sentes e não querias sentir. 
No acolher desse turbilhão de sentimentos que engavetaste durante tempo demais e agora te atingiu com a força máxima. 
No silêncio que precisas para te ouvir, mas que te faz sentir sozinha. 
Nos gatilhos que aparecem do nada e te levam para lugares escuros de onde pensavas já teres saído há muito. 
Dizes a toda a gente que estás bem. 
É mais fácil assim. 
Foi o que aprendeste a fazer para não incomodar. 
Mas hoje sabes que, um "está tudo bem?" também é preciso. 
Hoje sabes que, talvez, antes de ter dado tanto aos outros, devias ter cuidado de ti primeiro. 
A sensação é de alma sugada. 
De vazio. 
De que ninguém te vê. 
E, uma vez mais, vais ter que te virar sozinha. 
Vais ter continuar a fingir que estás bem. 
Porque, afinal, tu és forte, tens sentimentos, já aguentaste demais... 
Mas nunca ninguém se vai lembrar disso. 
És tu contra o mundo. 
Outra vez. 
Sempre assim... 


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Se amanhã eu não estiver aqui...




Lembra-te de todas as palavras que te dediquei, pois sabes que em cada uma delas ia uma parte do meu coração.
Se eu amanhã não acordar, lembra-te de mim pelas minhas atitudes.
Se amanhã eu não estiver aqui, lembra-te de todas as vezes que acreditei em ti e lembra-te do quanto eu persisti…
Era a minha forma de te dizer o quanto me eras.
E lembra-te de todas as nossas conversas em que te dizia o quanto eram únicas as coisas que sentia.
Se eu amanhã não estiver aqui, lembra-te de todas as coisas bonitas que sabes que tens e que encontres uma forma de as dividir com alguém e de realmente te expores, mesmo que não seja comigo… porque uma das marcas que eu espero ter deixado em ti é que não há problema nenhum em sentir e que estar vulnerável também faz parte da natureza humana.
E se amanhã eu não estiver aqui, lembra-te sempre de que antes de ser mau, foi muito bom e guarda isso contigo.
Todas as coisas que não disse.
Todas as coisas que não fizemos.
Toda a vida que deixamos para depois…
Mesmo aquelas que não concordaste.


segunda-feira, 24 de julho de 2023

Há um mar...



... adentro em mim cujas ondas deixaram de se encrespar. 
Onde molhar os pés assusta mais agora do que surfar em mar revolto. 
Há um mar em mim que pede maré baixa. 
Calmaria. 
Há em mim, agora, uma necessidade constante de silêncio.
É difícil sair de lugares escuros para onde voltamos fruto de situações que pensamos estarem resolvidas dentro de nós. 
É difícil não pensar nos porquês e por mais voltas que demos, também é preciso acolher todas as coisas que sentimos, independentemente, de serem boas ou más. 
Chorar, gritar, voltar a chorar. 
Pensar para entender. 
Ressignificar para tentar fazer com que deixe de doer. 
Saber que há gatilhos que nos vão fazer despertar para essas situações e saber como poder controlar isso. 
O princípio fundamental é não assumir uma culpa que não é nossa. 
Há coisas que simplesmente acontecem e não podes fugir delas. 
E cansa ter o peito nu constantemente aberto às balas. 
E há dias que são pura dor. 
Que são difíceis de viver. 
E também estes são necessários. 
Só quando os conseguimos entender e assumimos tudo aquilo que sentimos se torna menos difícil levar o barco para a frente. 
Somos fruto do que fizeram connosco e a diferença é o como lidamos com isso. Como fazemos para que doa menos. 
Como aceitamos tudo aquilo que não dependia de nós. 
Como limpamos as coisas que nos fazem mal. 
E é aí que fica um vazio. 
É neste momento que começa a transformação. 
Na capacidade de o sustentarmos durante determinado tempo até que percebamos para onde queremos ir ou como o vamos preencher. 
É neste vazio que percebemos que há pessoas que já não nos servem mais, que os círculos ficam mais curtos e menos interessantes, que tudo aquilo que outrora nos coube já não faz mais sentido. 
É nesta luta entre tudo aquilo que sentimos e o que já sabemos que tomamos decisões. 
Ou voltamos aos velhos hábitos e repetimos em loop todos os padrões de que tentamos fugir ou seguramos a barra e só ficamos com o que acrescenta. 
É aqui que o medo toma conta. 
De fazer novo. 
De deixar entrar algo novo. 
O novo assusta. 
Sempre. 
Mas também é aqui que podes (re) começar a viver. 
Assusta olhar para dentro. 
Dói. 
Consome. 
É  aqui que te sentes sozinha, porque ninguém vai parar para te entender ou para te ouvir. 
É aqui que sabes que dependes, exclusivamente, de ti. 
É aqui que sabes que poucos te veem. 
Mas sem isso, seremos sempre iguais a ontem. 
E eu... 
Eu quero ser melhor amanhã.