Vestia um conjunto branco de trazer por casa.
Que se perdia
no tom da pele bronzeada.
Fazia contraste com o rosa das unhas.
Que fazia
contraste com as coisas que sentia.
Perdia-se, durante horas, numa varanda onde
mirava o vazio.
Mas encontrava paz ali.
Entre o silêncio e a cerveja.
Entre amendoim e a brisa que não corria.
Estava cansada dos mesmos lugares e de fazer as mesmas coisas de sempre. Havia
em si, uma necessidade urgente, de respirar.
De vida.
Sentia que a vida corria
ligeira, mas sem emoção.
Vestia-se de cores, para camuflar o cinza que lhe
trespassava o peito.
Bebia uns tragos, para se esquecer da vida que a escolheu.
Nalguns dias, esquecia-se demasiado.
Noutros, voltava tudo à flor da pele.
Tinha uma ânsia desenfreada de querer fazer dar certo, mas tinha o pé a fundo
no travão.
Já não era medo.
Era cuidado consigo.
Contava as horas e os dias que passavam através de uma janela.
Como se fosse um
portal que a transportaria para um qualquer outro lugar. Gostava de ouvir o
cheiro a vida das outras vidas.
Gostava de ouvir a música da vizinhança e os
gritos das crianças nos passeios. Gostava de saber as cores das roupas
estendidas nas cordas nos apartamentos de frente.
Gostava de ouvir o aspirador
soar no carro do vizinho chato.
Gostava do sol a bater-lhe na cara.
Numa
mistura de "gosto de estar aqui, mas queria estar noutro sítio".
Gostava destas coisas pequeninas.
Que lhe pareciam gigantes, vistas da sua
janela.
Gostava desta liberdade de poder escolher os seus momentos, ao mesmo
tempo que se angustiava na falta de um "como foi o teu dia?