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quarta-feira, 29 de abril de 2020

Nunca sei muito bem como gerir este tipo de emoções.


Sinto-me como se estivesse a viver em piloto automático... 
Anestesiada a uma situação que eu não escolhi viver, assim como ninguém... Mas que me r(d)ói por dentro.
Entre os isolamentos no trabalho e o isolamento em casa, sobra muito pouco espaço para ser feliz. De repente, vi-me privada de tudo... 
De percorrer os cantos da minha casa, de abraçar os meus sobrinhos, de cozinhar para nós. Sinto que me tiram todos os dias um pouco mais de vida, sinto que me roubam todas os dias momentos preciosos. E isso transforma-se em inércia e apatia. Quanto menos faço, menos me apetece fazer. 
A cabeça não pára e só me pergunto "até quando"?
O sono parece sempre pouco e as horas intermináveis. Os dias tornaram-se todos iguais e as vontades deixaram de fazer sentido, porque não há nada que eu possa fazer.
Deito a cabeça na almofada e pergunto-me vezes demais quem cuidará de mim. Falta muito pouco tempo para regressar ao trabalho, para voltar a estar longe de casa a cuidar de quem precisa... E parece um ciclo vicioso entre prisões... E a juntar a tudo isto o coração apertado de espreitar os meus por entre vãos de portas, de só os poder abraçar com os olhos... Porque no meio de tantos cuidados, ainda não há quem cuide dos cuidadores.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Fui ali... já volto...




Não era a guerra, mas eram as trincheiras. 
Era o medo. 
A saudade de quem fica para trás. 
A angústia e a incerteza de não saber o que trazemos agarrados à pele... 
Era a luta sem rosto. 
Mas é a certeza de que tudo foi feito. 
Que a consciência dorme tranquila. 
Faço pelos meus e pelos filhos de ninguém. 
Desejem-me sorte e coragem... 
E que os dias longos se tornem mais curtos...
Passei um dia inteiro a questionar: "porquê eu?" ' Porquê a mim?" 
Eu quero acreditar que me estava destinado pelas melhores razões. 
E não sou hipócrita, pensei em virar as costas confesso... 
Mas sei que os meus estão bem e os outros estarão ou não.
Expliquei à minha sobrinha o que ia fazer e ouvi: "tenho muito orgulho em ti"! Sei que vou pelas razões certas. 
Pelos que deixo e pelos que vou encontrar.
Hoje faço a mala... 
Não sei por quantos dias porque não me considero invencível ou imortal... Faço para ir até onde der. 
Faço para amparar os que já estão em queda livre.
E eu tenho tanta sorte. 
Pelos que me querem bem. 
Pelos que me amam. 
E pelos que amo também. 
Prometo voltar depressa.