Não era suposto. Foi apenas o que consegui pensar naquele momento. Não
era suposto estarmos ali. Era suposto ser eu e tu. Não um nós. Um nós
assim. Um nós tão estranhamente bom. Um nós tão desmedidamente intenso.
Não era suposto sentir saudade. E eu sinto. Aquela saudade boa, sabes?
Aquela saudade que nos dá ao coração a certeza de que os momentos de
felicidade somos nós que os fazemos quando conseguimos estar em verdade
connosco e não precisamos de filtrar aquilo que somos. Aquela saudade
que nos dá ao coração a certeza de que há coisas tremendamente boas nas
coisas más. A certeza de que até nos destroços de um terramoto há um
pequeno elemento, por mais pequeno que seja, a que nos podemos agarrar e
construir, de novo, a partir dali.
Mas, depois, há o medo. Aquele que nos obriga a pensar duas e três
vezes. Aquele que nos tenta contrariar as emoções. Aquele que nos tenta
desligar do que sentimos no coração. É o medo de voltar a doer. Medo de
que o amor volte a doer. Medo de voltar a sentir algo que nos transcende
o corpo. Medo de perder a razão e agir com o coração. Medo de que até
nem seja amor e seja apenas mais uma ilusão, mais alguém que funciona
como uma espécie de cortina que oculta a nossa própria realidade.
Ou talvez seja, de facto, um sinal do universo. Um sinal que são estes
momentos que ficam escritos no livro da nossa vida, estes momentos em
que estamos absolutamente felizes, sem pensar num futuro, sem pensar no
longo prazo, estes momentos em que importa o aqui e o agora e o passado
foi só uma sucessão de acontecimentos que nos trouxe este presente.
Talvez seja esse sinal, essa certeza de que não importa se é para sempre
ou não, importa sim que seja verdadeiro enquanto é amor.
O amor não é mel