Das tardes enfiadas a estudar nas salas que se encontravam vagas no polo da Penha, eu explicar que era a lei da nacionalidade que se aplicava ao caso e tu
questionavas porque não era a lei do território... Discussões interessantes...
no final da tarde percebíamos bem melhor, confesso, graças à tua capacidade
argumentativa...
De todas as vezes que, a passos lentos, nos dirigíamos para a pauta para
ver se tínhamos um motivo para ir às compras ou deprimir no sofá da tua sala...
De todas as tardes passadas em tua casa que se prolongavam até à noite e a
minha mãe sempre a perguntar porque não me mudava para lá...
Do suave cheiro a incenso que ardia sempre ao pé do televisor...
Das tardes passadas no shopping, sempre na mesma mesa, a nossa mesa... e ai
de quem estivesse lá sentado...
Do fato de treino com sapatilhas e a mala muito clássica no teu braço...
só
tu!
Das conversas, das tuas explicações sobre o que tu achavas que era melhor
para mim... sim andava à deriva e tu só me querias resgatar... Confesso que
demorou mais uns anos sabes, até doer não pela minha mão, mas pelos gestos e
palavras que nunca esperei experimentar e ouvir...
Do chá e das mantas pelo colo... Hábito que aprendi contigo e hoje mora em
mim...
Da força que me transmitias, de como eu pensava que na altura que queria
ter essa força, esse discernimento, essa coragem para enfrentar as coisas...
De todas as vezes que me dizias, Isa, és mole pá, és morcona, sai lá dessa
concha que te envolve e sem medo tomas as decisões que tens que tomar porque o
caminho não é por aí... como estavas certa...
Da alegria partilhada quando encontraste o amor... dos preparativos do
casamento, procura quinta, procura vestido... e o vestido!!! Lembras da
peripécia do vestido? Sais da loja depois de dizer que não queres porque não
simpatizaste com a funcionária e dizes: Isa, mas é aquele vestido que eu quero,
e agora? Agora, agora bora lá ir buscar o dito...
Da tua imagem à porta da igreja, das lágrimas por saber que irias para o
outro lado do oceano... eu que era tão dependente... como iria viver?
Mas a vida continuou a passos lentos nos primeiros meses... mas contigo
sempre no coração.
Da primeira vez que vieste de férias, fui ao aeroporto, corres e abraças-me
antes de abraçar a tua mãe... e dizes: ai Isa, não imaginas como estou...
Das conversas retomadas no ponto que ficaram uns meses antes e tudo parecia
igual.. tudo era igual... tudo É IGUAL... no meu coração.
Por isso, ainda que estejamos longe, ainda que uma imensidão de oceano nos
separe, estás sempre aqui sabes? mas sabes mesmo?
Não penses que a distância fez esmorecer tudo isto que sempre nos uniu, a
cumplicidade que nos envolve... e quando te dizia uma mentira dizendo, ah e tal
tá tudo bem e tu dizias, vá lá , conta-me tudo...
Porque agora aqui está tudo bem mas anseio por te ver e dizer, vá lá Ana,
conta-me tudo.
Esperam-te os meus braços e o meu ombro, desta vez quero sentar-me contigo
e ouvir-te como tanta vez me ouviste a mim...
Quero muito...
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