O que dói na solidão
é a escova de dentes
e o tabuleiro sobre a mesa de jantar.
É a lata de atum e o ovo mal estrelado,
são os treze minutos que o arroz leva a cozer
e a fatia de pão de forma a queimar na torradeira.
O que dói na solidão
são as lâmpadas fundidas e
as janelas lacradas,
é o barulho da porta da rua
no rés-do-chão do edifício
e o toque estridente
do telefone que nunca vamos atender.
O que dói na solidão do quarto
é a roupa a ganhar raízes pelo chão
é a torre de poetas
equilibrando-se na mesa de cabeceira,
é a cama que sempre esteve por fazer.
O que dói na solidão da casa
não é a solidão.
É a casa.
A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito...a casa que dói!
ResponderEliminarUm abraço!