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sexta-feira, 19 de julho de 2024

Sobre os últimos meses...


 

Vestia um conjunto branco de trazer por casa. 
Que se perdia no tom da pele bronzeada. 
Fazia contraste com o rosa das unhas. 
Que fazia contraste com as coisas que sentia. 
Perdia-se, durante horas, numa varanda onde mirava o vazio. 
Mas encontrava paz ali. 
Entre o silêncio e a cerveja. 
Entre amendoim e a brisa que não corria.
Estava cansada dos mesmos lugares e de fazer as mesmas coisas de sempre. Havia em si, uma necessidade urgente, de respirar. 
De vida. 
Sentia que a vida corria ligeira, mas sem emoção. 
Vestia-se de cores, para camuflar o cinza que lhe trespassava o peito. 
Bebia uns tragos, para se esquecer da vida que a escolheu. 
Nalguns dias, esquecia-se demasiado. 
Noutros, voltava tudo à flor da pele. 
Tinha uma ânsia desenfreada de querer fazer dar certo, mas tinha o pé a fundo no travão. 
Já não era medo. 
Era cuidado consigo.
Contava as horas e os dias que passavam através de uma janela. 
Como se fosse um portal que a transportaria para um qualquer outro lugar. Gostava de ouvir o cheiro a vida das outras vidas. 
Gostava de ouvir a música da vizinhança e os gritos das crianças nos passeios. Gostava de saber as cores das roupas estendidas nas cordas nos apartamentos de frente. 
Gostava de ouvir o aspirador soar no carro do vizinho chato. 
Gostava do sol a bater-lhe na cara. 
Numa mistura de "gosto de estar aqui, mas queria estar noutro sítio". 
Gostava destas coisas pequeninas. 
Que lhe pareciam gigantes, vistas da sua janela. 
Gostava desta liberdade de poder escolher os seus momentos, ao mesmo tempo que se angustiava na falta de um "como foi o teu dia?


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