Há imenso tempo que não o ouvia, talvez pela melancolia das
suas músicas, talvez a minha falta de tempo, talvez para não lembrar…
O facto é que ele marcou uma época importante da minha vida.
Cantava todos os domingos no velho gira-discos da minha avó, naquele rés-do-chão
virado para um jardim decadente na periferia de Paris. Lembro-me da velha
janela castanha desgastada pelo tempo, que se abria ao fim da tarde para deixar
entrar luz em casa e até consigo vislumbrar a minha avó encostada ao parapeito
a vigiar as minhas brincadeiras na rua, enquanto sonhava ao som das músicas
dele.
Ficou marcado como uma tatuagem a primeira vez que o vi, num
réveillon no Moulin Rouge, das poucas vezes que me foi dada alforria em Paris.
Lembro-me de ter ficado de boca aberta durante mais de uma hora enquanto ele
cantou… lembro-me de ter deitado umas quantas lágrimas…lembro-me de ter sido
alvo das brincadeiras dos meus amigos por gostar dele… um velho romântico…
quando a idade nos injectava rebeldia, lembro-me de ter pensado que não podia
esquecer de contar à minha avó que o tinha visto, ali… pertinho de mim, depois
lembrei-me que não podia… a minha avó já não o ouvia aos domingos à tarde
sentada à janela do velho rés-do-chão…
Depois esqueci… a responsabilidade da vida adulta não me
deixou tempo para o voltar a ouvir com atenção. Escutava-o de tempos em tempos
no rádio, mas nada se comparava à magia do velho gira- discos da minha avó.
Hoje acordei com a notícia da sua morte.
E voltei a chorar
ao som de....
Deixa uma imensa pena, e a todos um pouco mais pobres.
ResponderEliminarUm bom fim de semana