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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Sem título

 Queria-te escrever uma carta de despedida, mas não sei despedir-me de mim.

E podem até parecer coisas diferentes, mas não são.

Cruzámos  as pernas, os dedos, os sonhos.

Já não sabia onde acabava eu e começavas tu. 

E é por isso que sei que os bocados meus que me faltam, hão-de estar no bolso de um casaco teu, esquecidos entre as facturas e a moeda de plástico do carrinho do supermercado.

E é por isso que há partes de mim que sei que são tuas, que foste plantando e semeando cá dentro.

É um jardim bastante deprimente que te presta homenagem, tenho tentado não passar lá tempo demais.

Queria escrever-te uma carta de despedida, mas não sei despedir-me de mim, por isso escrevi só: 

Cuida de ti. 

Na esperança que cuidasses de mim também, não da minha presença, mas da minha saudade.

 

 

 CD

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