... pelos dias que passam corridos e pelos dias que passam batidos.
Tenho medo pelos dias que não acrescentam, pelas horas vazias cheias de
coisa nenhuma, ao mesmo tempo que sinto que vinte e quatro horas não
chegam para nada.
Ou estou a fazer mil coisas ou estou numa inércia
em que tudo me parece demasiado cansativo e volátil. Tenho saudades de
algumas coisas, pessoas e situações, quando em simultâneo não sinto
falta de nada. Ao mesmo ritmo que quero ir, fazer e acontecer, quero
estar sossegada no meu canto, não ouvir a voz de ninguém, só pensar em voz
alta. Gosto dos pedacinhos de silêncio que consigo encontrar num dia
só... Que podem ser, muitas vezes, um problema para uma mente inquieta.
Nunca me fez tanto sentido perguntar "para onde vou? Quem sou e o que
faço aqui?" Sei que afasto as pessoas e nem sempre é uma escolha
intencional, mas depois da vulnerabilidade com que abres o teu livro,
vêem-te com outros olhos. Ou pelo menos eu acho isso.
E nos relatos
que deixo escapar, a mensagem é de redenção e não de auto-comiseração.
Não é o onde estou agora, mas o para onde posso ir e o que farei para lá
chegar. E na verdade, ninguém sabe o que passaste, o que tiveste de
suportar para estares onde estás hoje, mesmo que isso, para eles,
signifique pouco, para mim é motivador. Para mim é a personificação de
resiliência e os outros não têm de entender isso. Eles não estavam lá
nos Natais e nos aniversários que passei sozinha. Eles não estavam lá
quando, grande parte da vida, estive sozinha. Eles não me ligaram a
perguntar nada quando o dinheiro não me chegou para pagar as contas.
Eles não estavam lá quando me empurraram para hospitais e o problema não
era eu. Eles não estavam lá quando engoli o choro e o troquei por uma
gargalhada. Por isso, os outros são apenas isso, os outros. E eu, mais
ou menos complicada, mais ou menos difícil de lidar e entender... Fiz o
meu caminho, certo ou errado, não importa, foi o meu... E no final das
contas, reconheço o meu valor!
sábado, 19 de dezembro de 2020
Tenho receio...
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