Ele é médico legista e ela não
consegue deixar de pensar nisso enquanto fazem amor. Toca-lhe de uma forma tão
precisa, tão leve, tão cirúrgica que ela sente-se mais exposta
do que alguma vez no passado. Sabe que ele conhece em pormenor todos os
músculos, todos os tendões, todas as artérias e todas as veias do seu corpo.
Sente-lhe os dedos deslizando pelos braços, em redor do peito, através do
abdómen e não consegue evitar um arrepio de temor. Como se, a qualquer
instante, com um gesto suave e preciso, usando uma unha como bisturi, ele
pudesse abrir-lhe um golpe na carne e entrar-lhe verdadeiramente no corpo. Está
consciente de que é uma estupidez pensar tal coisa: ele é amável,
atencioso, até um pouco tímido (e traz sempre as unhas bem curtas). Mas não
consegue evitar o pensamento.
Na realidade, é forçada a admitir que
não desejava evitá-lo. Que procurava a sensação que a transformara numa parte
essencial do acto amoroso. As capacidades dele para ler o corpo humano, para
identificar zonas frágeis, para o desmembrar, se fosse preciso, haviam-se
tornado num elemento de excitação adicional.
Meses depois do início da relação abordou
finalmente o assunto. Perguntou-lhe: «O meu corpo é muito diferente dos corpos
com que lidas no trabalho?» Os olhos dele arregalaram-se de surpresa. Ela
ponderou se teria sido a primeira mulher a colocar-lhe a pergunta. Depois
pensou que talvez a surpresa dele resultasse não de ser a primeira vez que lhe
faziam a pergunta mas de, tanto tempo decorrido após o início da relação, já
não a esperar. Antes de ele responder, acrescentou: «O que quero dizer é:
quando acaricias o meu corpo notas as semelhanças com os corpos que autopsias?
No fundo, é só carne, não é?» As palavras soaram-lhe inadequadas e brutais e
ela arrependeu-se de ter iniciado aquele diálogo. Mas ele recuperara a
expressão de beatitude.
Quase sorria, na verdade. Disse: «Não, não
noto as semelhanças. Noto as diferenças.»
Foi nesse momento que a relação deles
entrou numa nova fase.
É nesta fase que o dr grau puxa das amarras e a ata à cama? :-D
ResponderEliminarQuem diabo é o dr grau?
EliminarGray!!!! Lol
EliminarQuerias dizer Grey, certo Doc? Aquele que anda nas sombras...
EliminarFdX que o corrector não acerta!!!
EliminarMas sim, esse mesmo!
Coisa que nunca me passaria pela cabeça perguntar numa situação dessas.
ResponderEliminarNão tinhas curiosidade Timtim? :P
EliminarEu já li isto algures...
ResponderEliminarA moça já devia saber que há defeitos de profissão que não dá para ignorar mas o tipo conseguiu responder bem dadas as circunstâncias, é que fazer perguntas dessas naquele momento...
Achei piada ao pormenor das unhas.
Já leste?? onde, onde??? loollllllll
EliminarÉ... o moço portou-se bem... :P
Algures...por aí...
EliminarAi portou-se bem, queres partilhar algo?
Xiuuuuuuuuuuuuu - para a primeira frase
EliminarNão....- para a segunda frase :P
Tou a ver o filme...grandes rebaldarias!
EliminarGostava tanto que me montasses assim...
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