Ela pinta as unhas de vermelho quando quer. Mas também sabe
deixar as unhas a lascar quando lhe dá vontade. Esbanja esquisitices ao
falar das suas séries favoritas e cala-se quando o assunto é sobre o
porquê dela não ter namorado.
Ela usa vestidos de crochet, e gosta daqueles clichês de tomar chá quando o
tempo está frio. Bebe cerveja em canecas como os homens pré-históricos quando lhe
apetece. Ela ri de palavrões e de piadas de humor negro. Mas, também,
derrete-se mais do que manteiga numa frigideira quando recebe um sms romântico de madrugada.
Mas por que não namora?
Ela acorda, escova os dentes perfeitos, sinal de quem já usou aparelho, toma
chocolate quente, arruma-se e vai trabalhar. Ela é linda e desconversa.
Fala do tempo, do futebol, da novela, da mãe e da crise em Portugal.
Mas porque é que não namora?
Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta. Gosta
de umas bandas que ninguém conhece e chora com as histórias do Nicholas
Sparks.
É misteriosa também. Corta o cabelo de acordo com as fases da lua
e se lhe apetecer come massa com feijão. Não é esquisita. De Verão por
vezes, liga o ar condicionado porque gosta de dormir a sentir o frio e
acaba por adormecer como um esquimó com meias e edredon. Uma linda esquimó por sinal. Costuma atender as chamadas somente após a quarta
tentativa de ligação. Não, ela não as ignora. Ela perde é tempo a procurar o
telemóvel na bolsa, debaixo da cama ou na pia da casa de banho. Mas, de
vez em quando, ela sabe ignorar também. Diz que não sabe dançar. Recusa os
convites, mas adora ser convidada.
Mas porque é que ninguém conseguiu ultrapassar esse muro de Berlim
que ela ergueu no seu peito? Ela desconversa. Ri pelo canto da boca e
pergunta-me se eu fumo tentando desviar o assunto para longe. Eu insisto. Falo
coisas fora de moda atiro ao ar o facto de achá-la perfeita demais
para não andar com algum sortudo lado-a-lado. Ela empina o nariz fino, lança-me
os seus olhos escuros brilhantes e ajeita-se sobre a mesa. Muda o tom
e diz-me:
“Porque eu não quero”.
“Porque eu não quero”.
E eu rio, sem graça, da minha maldita ideia de achar que todo
mundo quer ter alguém para dividir os brownies.
[Hugo
Rodrigues]
Ela está solteira. Não sozinha.....bela dicotomia de palavras.....
ResponderEliminarMas se eu morasse lá, ela poderia estar solteira. Mas não estaria sozinha!!!
Ela não está sozinha... só está solteira... :)
EliminarSó namora quem quer. As simple as that.
ResponderEliminarNem mais... simple!!!
EliminarExcelente texto....!
ResponderEliminarBom voltar aqui!!!
Beijinhos
Maria
Bom ter-te de volta Maria, beijinhos
EliminarUm post autobiográfico?
ResponderEliminarKind of....
EliminarPor vezes as duas andam de mãos dadas e só alguns/mas se podem dar ao luxo de escolher.
ResponderEliminarBeijos
Basta aceitarmos que nem toda a gente precisa de alguém para ser feliz.
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