Ele dizia que eu era a única que o
entendia. Que ninguém percebia aquela falsa boa disposição, excepto eu. Lia-lhe
os olhos. Contaram-se uns anos, um outro lá admitiu o quanto eu era
especial, e quando a madrugada lhe era difícil o meu telefone tocava. Mais uns
meses e quando eu pensava que só dizia disparates, faz-me um frente a frente e
passo a ser uma das melhores pessoas que conheceu. Cansei-me, afastei-me, até
que mais um vem com um "desculpa lá" mas és das pessoas que mais prezo.
Parece bonito não parece?
É sempre bom
ser especial para alguém. Até parar e perceber que se hoje o meu amor é
perfeccionista, metódico, inflexível, a culpa é deles. Todos eles. Todos
os que se acomodaram em ser entendidos e não perceberam que em certa medida só de
mim entendiam o que eu queria. Porque nunca ninguém se preocupou em conhecer-me
sem que eu o fizesse primeiro, nunca ninguém deu voz ao que eu ainda pensava,
nunca ninguém terminou as minhas frases... Isso, nunca ninguém terminou as minhas
frases.
Alguém que me segure, me abane e me faça gritar a preocupação, os
exageros, os segredos. Mas ninguém. E é por eu não merecer menos do que esse
alguém que o meu amor continua inflexível. Metódico. Perfeccionista.
Sim, eu falo entre linhas. E não mudo até as saberem
interpretar.