Normalmente não sentimos simpatia por pessoas com mau feitio, mas de alguma forma sentimos algo parecido com empatia.
Porque,
mais tarde ou mais cedo, acabamos por lidar com pessoas com um carácter
mais difícil. Ou temos alguém na família que é assim. Ou aquele amigo
ou colega que tem bom coração, mas que temos de lidar de forma mais
comedida... Faz parte.
E eu,
uma pessoa muito simpática e sempre muito amiga, de quem eu tenho
perfeita noção que é fácil gostar, não tenho o melhor feitio do mundo.
Sou explosiva, impulsiva, intempestiva e todas as coisas acabadas em -iva difíceis de controlar.
Sou a pessoa mais disponível do mundo para ajudar, mas não me pisem que rodo logo a baiana forte-e-feio!
Mas mais uma vez o belo do cliché: o tempo mudou-me um pouco.
Fez com
que aprendesse a controlar-me. Ainda que há coisas que não consigo nem
quero mudar... E uma delas é fingir que gosto de alguém quando não
gosto. Não somos obrigados a gostar do mundo inteiro, certo, mas uma das
coisas que sempre me custou imenso absorver era o porquê de certas
pessoas, às quais jamais tinha feito algo de mal, não gostarem de mim.
Porque se há coisa com a qual eu não sei viver é com a dúvida e com a
injustiça... E se não gosto de alguém, tenho motivos para tal. Porque me
magoou, porque me traiu, porque me mostrou um sorriso rasgado que
escondia falsidade... Na verdade, se sei que alguém não gosta de mim,
não me tira o sono, mas faz-me pensar.
E ao
fim de tantos anos eu lá concluí. Foi tarde, mas foi. Concluí que há
sempre um motivo para alguém não gostar de nós. Que não há o não gosto
porque sim. Que não podemos detestar uma pessoa ao primeiro olhar.
Porque hoje não vivo sem pessoas de quem não gostei à primeira vista e
já perdi pessoas que amei de imediato.
Comigo?
Simples. Sem pretensão. Quer na vida pessoal, quer na profissional, na
grande maioria das vezes, não gosta de mim quem não me consegue vencer.