...já escondi o mundo todo num abraço, já fui verdade em todas
as minhas atitudes, já fui apaixonada pela vida. Mas depois cresci e, agora, já
sou mulher. E tu percebes que és mulher quando percebes que o mundo é tão cruel
que não te cabe nos braços, tu percebes que és mulher quando percebes que as
pessoas vão abandonando a verdade em que viviam e quando percebes que a vida
consegue ser fria e insensível contigo.
Já fui criança, mas agora já sou mulher. E tu percebes que és mulher quando
a vida te obriga a abandonar o ninho que tanto conforto te dá para ires em
busca do teu propósito. Tu percebes que és mulher quando, ainda ontem,
passeavas pela casa com os saltos da tua mãe e agora só queres os ténis
confortáveis que não te magoem os pés na correria dos dias.
Já fui criança, mas agora já sou mulher. E tu percebes que és mulher quando
te vês obrigada a casar com a responsabilidade, quando te vês obrigada a
suportar pessoas que não gostas e não lhes podes deitar a língua de fora como
fazias em criança.
Ainda ontem era criança, mas, hoje, já sou mulher. E, há momentos, em que
dava tudo para voltar a ser a miúda de laços no cabelo e calças à boca de sino.
A mesma miúda que acordava mais cedo aos fins de semana só para puder ver
desenhos animados.
É que ser criança é ter o dom de voar sem asas e, quando és mulher, até com
asas tens medo de voar.