Página

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Insónias...


 São quase três da manhã e estou na varanda fechada, mas aberta para o céu. 
Cansada, mas lúcida. 
Inquieta, mas serena (se é que isto faz sentido). 
A lua espreita serena entre os prédios, espalhando um brilho suave sobre a roupa estendida nos estendais dos vizinhos, que balança devagar, como se dançasse ao som de uma melodia que só eu consigo ouvir. 
As estrelas piscam, tímidas, cada uma como uma promessa de tudo o que ainda quero viver. 
Com tudo o que está por vir.
O silêncio domina, mas não está vazio. 
Chegam-me sons da rua: passos lentos, o farfalhar das folhas, um carro distante. 
Escuto também os murmúrios das casas: risos abafados, portas que se fecham, televisões ligadas, saltos que batem no soalho. 
Tudo se mistura numa sinfonia íntima, um murmúrio de vidas que continuam mesmo enquanto o mundo parece dormir.
E no meio deste cenário, Rui Veloso canta baixinho para mim. 
Volto sempre ao "Anel de rubi".... suave e carregada de memórias, como se a cidade inteira tivesse decidido cantar para mim esta madrugada. 
Cada acorde percorre a varanda, envolve-me, e transforma cada detalhe...a roupa a balançar, o farfalhar das folhas, os sons da rua, numa dança delicada de lembranças e desejos.
Sento-me, deixo-me perder entre o brilho da lua, um gole de vinho e o ritmo da música. Penso em tudo o que ainda quero fazer, nos lugares que quero conhecer, nas histórias que ainda vou viver. 
Cada estrela é um fio de esperança, cada som da rua um lembrete de que a vida está ali, à espera. 
E eu estou aqui, quieta na varanda, entre o céu e a rua, entre o silêncio e a melodia, sonhando acordada. 
"Está um frio de rachar", mas o coração quentinho.
Mesmo cercada pelo sono do mundo, percebo que estou viva. 
Inteira. 
Solta. 
Com o coração a bater no ritmo da madrugada e da minha própria imaginação, embalado pelo "Anel de Rubi" que toca, discreto, só para mim... 
Como se tivesse sido feita para mim.


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Um dia vou apaixonar-me por ti...


 

Mesmo que ainda não saiba quem és.
E quando isso acontecer, quero que me puxes para dançar na cozinha, entre o cheiro do alho a refogar e a água a ferver no tacho, como se a vida inteira coubesse num rodopio ao som de uma música qualquer. 
Quero que me acordes às três da manhã porque a chuva lá fora insiste em chamar-nos, ou porque a lua está tão brilhante que seria crime não a partilhar debaixo de uma manta na varanda.
Quero que me ligues radiante porque o teu clube acabou de marcar e que eu sinta na tua voz o mesmo entusiasmo com que me olhas. 
Quero que me contes os teus medos, até os mais tolos e escondidos, e que me deixes segurá-los como quem protege uma vela acesa num dia de vento.
Quero que te enrosques no meu colo nos domingos preguiçosos, trocando o travesseiro pelo meu peito e que o compasso do meu coração seja o teu embalo. 
Que rias das minhas manias, que roubes batatas fritas do meu prato como se fosse um ritual nosso, que escondas bilhetes nos bolsos do meu casaco só para me surpreender quando o mundo pesar.
Quero que me olhes nos silêncios, que me guardes nos gestos pequenos e que fiques ali, só a contemplar-me, como quem olha para um segredo demasiado bonito para ser dito em voz alta.
E Acima de tudo, quero que cada instante contigo... seja um abraço, um gole partilhado, um riso fora de hora, seja imenso o suficiente para durar para sempre