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quinta-feira, 19 de março de 2015

Carta aberta ao meu pai...


Dizem que hoje é o teu dia…
Mentira!!!
Aqui em casa todos os dias são…O teu dia.
Nas fotos espalhadas pela casa, no porta-chaves da porta dos fundos, no perfume esquecido no fundo do armário
(aquele que eu compro todos os anos e que a mãe acha estranho não evaporar)
nas prateleiras da cave cheias de ferramentas, em ficheiros escondidos do pc que eu guardo só para mim, e até na velha camisa azul marinho que a mãe detestava, 
(e que eu guardo religiosamente no meu roupeiro, para os dias em que a saudade me mata por dentro)… 
Lembras? Compravas uma nova todos os anos sem a mãe saber, para que se mantivesse sempre impecável.
Como nos riamos quando ela comentava que o tecido devia ser mesmo bom, já que nunca envelhecia.
Sabes pai…
Fazes-me falta!
Hoje mais do que nunca precisava dos teus conselhos, aqueles que me davas todos os dias e os quais eu dispensava pela imaturidade de época.
Se fechar os olhos ainda consigo escutar a tua voz, cada vez mais ténue, afastada pelo tempo…
-Isa…um dia vais entender porque te proibi de ires a esta festa, de voltares de madrugada, de acampares com desconhecidos, só porque são amigos de amigos…
Lembro-me que chorei muito, que barafustei, reclamei, amuei…
Mas…como eu te entendo, o pulso firme fez de mim a mulher que sou hoje, e agradeço-te do fundo do coração não teres sido um pai permissivo.
Sabes… precisava conversar contigo, ou simplesmente não falar, e ficarmos os dois, em silêncio, a olhar um para o outro!
Como os nossos silêncios me ensinaram tanto...
Ensinaram-me a calar, mesmo quando tenho razão, e a guardar só para mim, o que a mais ninguém diz respeito!
Preciso saber se estás bem...
Se estás feliz...
Se sentes saudades da tua filha...
A vida privou-me cedo demais da tua presença...
A morte chegou numa manhã de primavera, e levou-te com ela!
Foi cruel e injusta!
Hoje não posso dar-te um beijo e dizer que te amo, mas posso fazê-lo através desta singela carta.
 Todo o meu amor é para ti!
Obrigada pai!
Por teres existido, e por me teres dado a honra de ser tua filha...
Por teres sido um ser humano tão especial...
Jamais te vou esquecer!

Amar-te-ei para sempre!

4 comentários:

  1. Lirio Selvagem....belo texto!!!
    Recheado de amor, de ternura, de carinho, de um amor filial inesgotável, fruto, talvez, de amores em vidas passadas. E que nessa vida, foi prometido e realizado.... O tempo foi capaz de ratificar essa promessa....
    Encheu-me de lágrimas o teto. E apesar de não te conhecer, imagino as lágrimas descendo teu rosto, no momento em que escrevias e no momento em que esse texto não era mais só teu...
    Bela homenagem.... um belo post. Uma bela lição de amor entre filha e pai.
    Beijinhos "daqui"...

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    Respostas
    1. Daqui também houve uma pequena inundação...
      Obrigada PDR, beijos

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  2. Não é uma carta aberta, é uma Declaração de Amor comovente...
    Um abraço apertado!

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